sexta-feira, 27 de maio de 2011

DOCE

Um ano se passou. A menina despertara vagarosamente. O dia era branco com tempo de chuva. Aquele tempo que parecia não passar, aquele tempo que arrastava o canto do sabiá encolhido no canto da amendoeira.
A menina não gostava do tempo. Ela sentia demais quando ele vinha, sentia até. Sabia que não haveria mais aquele ano, que ele finalmente havia terminado. Sabia que nela havia crescido um monte de estórias, umas boas outras nem tanto. Sabia que haveria de pensar, recordar aquele ano que foi . Não foi como os outros, a menina havia crescido, a saia da menina já desfiava na costura. A menina acordara e sentiu saudade dele, sentiu que faltava ali naquele dia branco com cheiro de ressaca de chuva, o calor dele.
O homem de costeletas havia cantado naquela noite, cantava ainda a mesma musica, cantava para que a menina pudesse uma vez mais sonhar com seus olhinhos abertos enquanto o admirava. Ele estava ao lado dela, ele também havia passado aquele ano, ele também estava carregado de estórias, ele também havia crescido um pouco mais.
As mãos dele estavam novamente sobre a cinturinha ainda arredondada da menina, por causa dos doces, os sempre culpados doces que ele naquele ano nuca deixara de levar. Ele sabia como fazer a menina sorrir, ele bem sabia como.
Sabia também ciar a menina, ciava como quem escreve um livro. Cada pedacinho do corpo dela era ciado com sonhos. E ela sentia aqueles dedinhos contornando os pedacinhos de manchas que haviam se formado naquele ano. Ela contava as estórias em cada pedacinho, eram estórias de fazer sorrir e no final delas sempre a menina chorava.
Um ano havia se passado e a menina ainda assim, com sua saia um pouco desfiada lacrimejava com aquele homem. Ela o amava, e o contava sempre em seus versos, ela sabia quando ele iria voltar, ela fazia sempre aquele charme com o rebolado bem desenhado e ele voltava.
Ela contava também. Ela contava olhando para o nada seus devaneios e ele fitava seus olhinhos procurando qualquer sentido. Ele imaginava como seria aquela menina enquanto ele adormecia. Ele partia, ela se acostumara com sua partida e ele voltava. Mais uma vez vinham as estórias, as lágrimas, aquele sorriso encantador e aquela vontade louca de se amarem.
Um ano se passou, ela cresceu um pouco mais. Ele voltou a estar perto dos longos braços da menina, daquela menina dele.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Mãe

Escrever contos e os demais amores parecia-me uma tarefa não tanto fácil. Mais hoje quando me propus a te escrever vi que esses contos são como os ventos que a todo instante me embaraçam o cabelo e me refresca o dia quente que passa. São inevitáveis, são meus e assim posso ir tecendo minhas belas estórias. Porém dedilhar sobre alguém que me construiu por e com esses e outros amores, não foi comum.
Lembro-me de quando ela me pediu uma poesia. Ela cantava alto em seus aposentos para que de alguma forma eu pudesse me inspirar ou me lembrar de quando dormia em seus braços reconhecendo a voz que por toda a vida me acalantou. Ela me pedia uma poesia e eu queria mais uma vez aqueles braços, aqueles abraços.
Não pude escrever-te, e hoje ainda não posso. És gigante demais . Também és fulgás com o sopro de tuas canções. Escapa-me todas as vezes que tento dedilhar quaisquer palavras. E foi destas palavras que me sobraram algumas e consegui desesperadamente segurar ainda meio que gaguejando e compus esse texto talvez um pouco tolo, mas que foi escrito por essa minha mania besta de amar-te tanto.
Nesse pequeno texto quero pedir-te apenas que continue a me guiar por esse caminho em que desenhaste para mim. Caminho em que vimos e vivemos por causa de suas cores, suas curvas, de sua textura, de seu e agora nosso barro. Foi assim que me criaste e me moldaste para que eu pudesse de alguma forma te aliviar o peso da vida em nossas conversas e devaneios sobre Arte.
Agradeço-te por me emocionar tanto e por me fazer uma tola capaz de chorar incontrolavelmente diante de um tom azul.

Lobos

E sempre depois de algumas lagrimas ela sorria
Uma piada contada pelo amigo ao lado,
uma musica lembrada de horas antes,
uma hora em que tudo emudece. O corpo tremulo gagueja, claro.
Ouvimos do próximo olhar outros motivos óbvios
pois sejamos então como essa leva louca de rios,
uns que tracejam rebolados pra curar a dor,Viris e vorazes como lobos..............
E de ontem pensei ter lido algo assim: colocamos nosso coração a mostra e nos devoram os lobos, esses que ainda buscam suportar a dor.
...........ardor