sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Bocejo

Um assobio passava lentamente por entre seus pensamentos recompondo palavras esquecidas. Apagava, mexia, trocava e seguia. Reconhecendo aquele clima em que anunciava a chuva tardia, ela compunha um pequeno verso de pura nostalgia. Rimando!!
Lembrava-lhe o final de um romance, um filme que acabara de ver ou mesmo a saudade que batia suavemente em seu peito. Manhã de assobios, de pássaros e de lembranças. Manhã em que nascia poesias, em que se podia chorar ouvindo Elis e cantar baixinho uma dor, um amor.
Era manhã de ficar quieta, seguindo o dia e ensaiando sorrisos...

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Espreguiçando como pétalas
Exalando como Jasmim
Gosto doce -como- eu gosto

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Fiz minha casa no teu cangote

Lembro-me de quando ouvi cangote pela primeira vez, de logo senti teu cheiro, teu cheiro de cangote e me debrucei para agarra-lo bem forte. Seria isso mesmo, minha casa, meu lar. É quando fecho meus pequenos olhinhos e tu me balança contando lindas estorias...e minhas lagrimas vão hidratando teu corpo quente...

Como pode, no silêncio, tudo se explicar?!

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Quando meu coração é mau
ele é a lua, e o arco-íris é preto
Quando meu coração é feliz
ele é o sol, e o arco-íris é colorido

João Campos

domingo, 5 de setembro de 2010

Teus olhos

Ei,
Lembro-me bem de quando eles eram azuis, loucura á minha de enxergar o mar dentro de ti. Ouvia teus sussurros enquanto os pedaços de ventos embrulhavam tua pele branca para que eu pudesse sorrir desesperadamente ao te ver molhar o cabelo.Algum tempo depois eles ficaram esverdeados, uma surpresa para mim que já havia me acostumado com tuas águas. Sempre sedutores, ficavam á me espiar de longe e eu, claro como tua alma, fui te enxergando aos poucos. Vi que eles mudavam de cor, não seria mais surpresa, porém precisava saber quando.
Então passei a supor tuas cores, para isso desenrolava teus mistérios dia a dia, te enfraqueci, te encorajei, me fortaleci e chorei. Aprendi a ser escritora e até encontrei um pouco de poesia em mim. E eles insistiam em cores de tons alaranjados. Por vezes te vi usando um marrom escuro enquanto olhava-me com as feições de quem não suportava mais aquela minha curiosidade. Mas sou tuas cores e continuava...
Continuo, e quer mesmo saber o por quê?
Conto-te mais uma vez em sussurros, enquanto enxergo em teus olhos esse pedaço de mim que cravou em ti...

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Ontem, quando me deixaste um tom vazio
Como pétalas á cair no tempo, cuidadosamente, como quem dança,
Murmurei-te meus amores

Hoje, quando me cantaste a manhã
Pus borboletas ao vento
E de tons alaranjados
Sublimei minhas dores.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

De Olhos fechados

Ainda deitada de olhos fechados, em cima de poesias dormidas,
Hoje, me precisei de lamúrias
Amassados de papel,
Ainda de olhos fechados, possuía um ar de sobriedade esquecida,
Umas lembranças amargas, teu gosto ainda num hálito de anteontem,
Do que não foi, mas do que sonhei,
Não contei-com- contos de fadas
E somos um, em poesias insistidas, em roteiros sublimes e apenas um em sexo, cor-carne-ocio-sonho-medo, de olhos fechados
Por vezes ensaio um sorriso meio de lado. Nos momentos em que , vazio!!!
Mais uma vez esqueci-me de te guardar alguns segredos, me esqueci também de trocar as roupas de cama e lavar os cabelos. Meu deus errante, meus dedos imperfeitos!!
Um pouco de tinta, papel e lágrimas, tudo o que ansiava, os demãos de pinceladas,
Aqui de novo, deitada sobre, em, com, sentidos confusos, em esperanças certas do nada,
----supondo-----
Mais uma vez poesia, ainda assim, de olhos fechados!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Dançando no sopro do vento
Só pra sabiá espiar
Vez e outra teu cheiro manchando minha pela branca
e a Lua sorrindo, linda!!

domingo, 18 de julho de 2010

Ainda bem, meu bem !!!

Andei vagarosamente,
um tanto contraditória, as pernas grandes, lembranças apreensivas
Fui de cheiro de esgoto á melaço de mar,
tropecei em olhares modestos,
encantei-me aos sotaques carregados,
meu pouco Brasil
Acostumei meu corpo ao frio
As cores apareciam, sorriam
iam
Onde assisti ás efemeridades era convocada ao glamour
E pisei novamente, vagarosamente em saudades
Saudades!!
Saudades das minhas palavras....

domingo, 23 de maio de 2010

Aqui por dentro

Preciso partir, quem sabe volto um dia desses?
vou arrumar algumas palavras dentro de caixinhas coloridas,
e para acompanha-las vou brincando de cores e lembranças.

espero voltar...quem sabe?

quinta-feira, 20 de maio de 2010


Como é que se diz?
a de fios encarnados
sai de casa nada maquiada
de unhas mal pintadas
e dois brincos num só buraco!!
Uma noite de blues, devaneios e um roubo!
Um copo meu caro amigo,
Talvez dois
Piscadelas entre os quatros sorrisos
um pouco mais de blues,
de pano pra tecido
Fios coloridos espalhados em um Planeta

diário!!

terça-feira, 18 de maio de 2010

Hoje me escaparam 26 anos. Logo de entrada recebi um conselho nada ingênuo: Cresça e saiba quais serão suas escolhas!!
Logo hoje quando mais quis foi diminuir todos os meus poros para que coubessem no leito de minha mãe novamente. Logo hoje que acordei um pouco mais menina, com lagrimas saltitando de meus olhos já bem pequenos e rechonchudos.
Hoje quando a noite caiu e vi que besteira seria minha de ouvir tais conselhos encontrei entre em meu jardim de sonhos um menino com um sorriso tão belo que me conduziria a infinitas aventuras afins. Trazendo consigo uma caixinha delicada contendo textos de Manoel de Barros. Em suas linhas eram desenhados seu passado, sua infância e a maneira dele de continuar menino. Menino das palavras, menino de amores.
Enfim pude agradecer meu dia e comemorá-lo. E digo hoje aos 26 anos que busco e reconstruo minha infância, minha magnitude errante e desajeitada. Assim posso amar um pouco mais, posso viver um pouco mais sem se saber mulher de escolhas e definições e sim menina de palavras, de arte e de sonhos.

Obrigada menino...

domingo, 16 de maio de 2010

Até pensei


Junto à minha rua havia um bosque
Que um muro alto proibia
Lá todo balão caia, toda maçã nascia
E o dono do bosque nem via
Do lado de lá tanta aventura
E eu a espreitar na noite escura
A dedilhar essa modinha
A felicidade morava tão vizinha
Que, de tolo, até pensei que fosse minha

Junto a mim morava a minha amada
Com olhos claros como o dia
Lá o meu olhar vivia
De sonho e fantasia
E a dona dos olhos nem via
Do lado de lá tanta ventura
E eu a esperar pela ternura
Que a enganar nunca me vinha
Eu andava pobre, tão pobre de carinho
Que, de tolo, até pensei que fosses minha
Toda a dor da vida me ensinou essa modinha

Chico

sábado, 15 de maio de 2010

sábado, 8 de maio de 2010

Por uma taça de vinho
tinto
meus lábios!

terça-feira, 4 de maio de 2010

PELE










Aquarela sobre Papel

segunda-feira, 3 de maio de 2010

SAUDADE

Te deixar ir
nos dias que seguem sem ladrilhos
em ventania que passa secando o tempo
sem consolo, sem afago
Meu mundo passa
repassa,
num compasso circular
de ponta cabeça
no ponto
de ser deixado em sonhos teus
Dentro de caixinhas enfeitadas com papeis de seda
--tão frágeis---
guardo minha espera
hei de lacrimejar mais uma vez
Por saudade já falhada por teus braços.

quinta-feira, 29 de abril de 2010







DESCASO






Aquarela sobre papel

quarta-feira, 28 de abril de 2010

terça-feira, 27 de abril de 2010

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Poeta besta
Poesia fresca
Po-essência suspeita

TEXTURAS

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Sem sentido

Dei-me folga por um dia de ti. Levantei cedinho, antes que tua pele percebesse minha ausência. Fui rumo a um túnel escuro donde cada passo dado craquelavam o piso por debaixo de meus pés. Quando já havia abandonado o tempo sussurrei canções de amor. O eco não se rendeu aos meus encantos e devolvia-me uma voz sem qualquer afinação e me perdi na surdez. Continuei a caminhar vagarosamente acompanhada duma solidão densa, como as paredes daquele túnel. Empurrava meus braços contra o vento que insistia em não se mover, atravessava-o. Quando resolvi abandonar a luz pude sentir o cheiro encorpado daquele túnel. O cheiro parecia-me doce demais, e com as mãos já cansadas empinava meu nariz para que me guiasse ás pernas. Ainda bem devagar continuei a andar. Agora percebi que havia perdido mais um de meus sentidos, não havia mais cheiro doce nem cheiro algum. Parei por um instante. Parti a devorar as paredes com lambidas suadas de minha saliva. Degustei cada centímetro daqueles últimos metros que me restavam. Parecia-me gosto de poeira adormecida, sem lembranças. Perdi-me por segundos quando percebi que me faltaram também às papilas gustativas. O vento tornou-se ainda mais denso e difícil de atravessar. Contudo minha intuição pressentia o fim daquela passagem. Restava-me tatear as paredes, e assim conduzi-me pelas mãos que num instante qualquer perdera também seu rumo. Eu sem rumo fiquei. Sendo pisoteada por uma intuição nada fugaz me rendi a tuas lembranças. Acompanhada dela pude sair daquele túnel, acompanhada de teu cheiro pude sentir novamente meu olfato, acompanhada de tua boca pude degustar mais uma vez minha saliva, acompanhada de teu violão pude ouvir mais uma vez o som suave de minha canção, acompanhada de teu abraço pude sentir minha pele envolvendo cariosamente meu corpo, e então pude enxergar uma luz. Sem mais cautela corri rumo á ela. E lá havia o que mais me faz e conduz meus sentidos: teus olhos. Aquela cor dos teus olhos!
Porque me condenas
a ser tão pequena?

no mundo de hoje
porquanto

com flores
ardores
tremores

só posso morrer de amores.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Da primeira vez que me assassinaram
perdi um jeito de sorrir que eu tinha.


Mário Quintana

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Era óbvio,
Olhos míopes,
Ele não bebia,
Ela não tirava as sobrancelhas

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Para um lugar formoso

Um poema sereno, como o amanhecer do campo
com zuada de cabrito caçando pitomba debaixo do sopro do vento,
uma cantiga das flores silvestres que cochicham o dia que segue
tudo fica aguado, desmancham-se em pinceladas de aquarela quaisquer contornos mais rígidos,
A poeira se sobressai ao piso ladrilhado, vassoura vai—vassoura vem, compondo uma sinfonia
com as notas que a floresta oferece, assobio de vaqueiro no meio da boiada,
vagando frouxo no meio do mato
Menino pele de goiaba, cheiro de goiaba e caroço de goiaba por entre os dentes,
O vento agora sopra mais preciso, sabendo que tem hora pra serviço
Por entre as galhas vai levando á terra seca um pouco mais de fruto, de pólen
Um belo convite á vida.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Canção de despedida

O homem diz que não vai voltar,

a menina chora

O homem cresceu antes da hora,

os olhos da menina choram

O homem diz que volta á lhe procurar,

as mãos da menina choram

O homem olha para qualquer lugar,

o peito da menina chora

O homem tenta lhe acalantar,

a pele da menina chora

O homem procura o que falar,

as pernas da menina choram

O homem não pode mais amar,

o amor da menina chora

O homem precisa partir, a menina que ainda chora

o choro sereno que tinha guardado

com os olhos inchados,as mãos trêmulas,

a pele aguada, o peito apertado,as pernas bambas

caminha, devagar

Os passos da menina ainda estão embrulhados em sua tão sonhada saia florida,

a saia da menina que também chora.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Pequenos pedaços meus

Tenho algumas palavrinhas escondidas por aqui. Hoje reli todos os meus poemas, viajei por mil passados e me debulhei em lágrimas. São tantos. Todos azuis. Uns vinham etiquetados como sendo frágeis, outros são aqueles que não precisam de moderação. Embriaguem-se! Encontrei um que guardava meu rosto ao lado, esse foi feito para ti, entre tantos feitos para ti, esse conduzi cuidadosamente em meus momentos raros de sobriedade. Lembro-me daquele sorriso, como custei a desenhá-lo para que ficasse perfeito em teu poema.
Hoje amanheci com um poema, feito para mim. Tomates!!! Adoro-te tanto. Logo hoje, que foi depois de ontem. Depois de ter murchado até que a ultima lágrima fosse derramada em braços de meu amor. Logo hoje que acordei um pouco mais’’ blasé ‘’. Tomates! Amo-te tanto. Vou sim como a Primavera. Agora posso me suportar um pouco mais. Vou correr em meio à piçarra produzindo com barro meu o mais lindo jarro. É dele que me brotam uns pedaços de talos. São destes, talos, que escrevo meus poemas. Não seriam rosas? São flores. São espinhos.

Menina
de saia florida roda
Balança as flores da copa
Se são ipê
Lindas
Cái
Murcha
Também morre
Não chore
Floria
Mais que uma vez no ano
que há flores todo tempo
No seu momento
Menina
De imbu
cheira
mandacaru

no ipê
violeta
amarelo
alaranjado
jardim
e
sonhos
dóirado.

Paula Alves


Vou indo por ai. E me demoro. Quero sentir saudades, roçar-me por entre as arvores, espiar cada detalhe tolo. Encantar-me. Quero me procurar também, se não me falha a memória, deixei algumas pistas em meu caminho. Não volto. Dou uma volta. Vou por caminhos desconhecidos. Caminhos que me assombram as topadas nas pedras nunca vistas. Mais ainda assim, meio perdida, deixarei algumas pistas. Vai que me encontro? Não, não suportaria tal fim.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Nem mesmo sóbria posso ficar. Ontem, pertinho do amanhecer consegui escalar alguns metros de delírios, mas tenho medo de altura ela sempre me faz perceber como calafrios tornam-se gozo em minhas entranhas. Não costumo olhar para baixo, não procuro vencer o medo, consumo e pulso. Odeio-me por vezes que me encorajo, sei que são apenas delírios de minha covardia. E adoro minha covardia, não a traio mais, não a dito mais e não nego. E sim sou ela, me sou por ela e te dou com ela.

Nem mesmo sóbria posso ficar. Ontem, longe do amanhecer consegui planar sobre meu jardim. Nele vi novamente que poderia me louvar mulher, mas são apenas certezas de minha estória. Quando consigo por debaixo da grama sujar minha raiz da água da chuva, me acovardo novamente. E adoro minha covardia, não a traio mais, ela me recorda o grito da guitarra acompanhada de qualquer voz rouca, o suingue no gramado com estalar dos dedos na percussão e saio com a certeza de que devo voltar. Sou ela, me sou por ela e te dou com ela.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Um momento, por favor!

terça-feira, 23 de março de 2010



Pele minha,
esticada sobre tantas ilusões
Parece-me um balão de festa de criança
quando mexida com certa intensidade
estoura-se com muito alarde

Vê-se ao ar pequenos pedacinhos de papeis picados, todos coloridos
no chão as mãos alheias procuram um doce
alguma coisa que sobrou
á espera de uma criança ainda tímida com tanta correria

Pele minha,
esticada sobre tantas desilusões
Parece-me saco de roupa esquecido sobre o guarda roupa
Vez ou outra rasgados, na esperança de vestirmos o velho modelito
que por tantas vezes nos levou a uma dança
Contudo,
a noda que ficou em seu magenta ,enfraquecido pelo tempo
acompanha um cheiro de mofo
encobrindo quaisquer lembrança

sábado, 20 de março de 2010

MENINO BONITO

.....Ela em mais uma hora vadia da madrugada insone, reparava naquele sorriso que já noutros tempos lhe fascinara. Era aquele menino bonito de novo! Ele que por tantas vezes suspendia as longas pernas num ritmo de dança inconfundível, nessa noite a desenhava em desejos simples buscando uma gota qualquer de seu cheiro. Ela já havia desistido da luta que repetidas vezes travava nos cantos da noite escapando de qualquer motivo que a levasse para seus braços. E nessa desistência ousara contornar os olhos daquele menino com palavras escritas em guardanapos, deixando de lado qualquer lucidez.
Ele declarara á flor encarnada o que a tirava do ar. Ela como já havia lhe precavido em suas poesias, flutuando ao som do reggae se tornara uma péssima equilibrista. Estando em seus braços novamente ia exalando seu cheiro ainda quente enquanto mordia o belo sorriso que lhe seria a lembrança de suas próximas palavras.....


‘’Ainda queres me ler mais?
Antes mesmo de me despir ás roupas?
aquelas que balanço incansavelmente para chamar tua atenção
Agora me são de espanto
por estarem suadas em meu corpo
com perfume feito para aquela noite
Ainda queres me ler mais?
Pois assim me desfolho em teus pensamentos
outra descarada mania minha de chamar tua atenção
para que outrora me devolva àquela sensatez que me roubaste noutra noite
cantando cartola
Menino bonito,
Imploro,
Não me declare mais este sorriso
E prometo escrever-te para que possa me tocar em cada palavra’’

quarta-feira, 17 de março de 2010



SAMBA ASSIM

Fui alternando os dias de samba
Terça e quarta e sexta e madrugando
Com calos infectados a manhã que se ergue insana
Despeja a solidão ingrata na noite que segue

Um dos poucos sonhos que tive
Sambaleando na multidão ás 4 horas da madrugada
Numa obediência profana
Enrolava meu corpo esguio ao som do surdo
Tremia minha carne alva no chiar do pandeiro
Decantava minha alma azul nas cordas do cavaquinho

Na passarela contive meus trajes
Mas a noite não me confia á cama
Uma dama que descascava seu pudor ao samba
Outrora descansava o tal em desconhecida cama.
Por samba de mulato faceiro
Como uma suave brisa
Conduzia meu embriagado cabelo ao toque
Lento e meloso de seu travesseiro

terça-feira, 16 de março de 2010

O DIA DO ESPETÁCULO


Nossa peça de teatro. Cenas já tão marcadas pelas manchas do palco. Nessa mesma hora em que me corta com um grande salto recordo o texto mal escrito.
Ainda sem encaixe perfeito as cenas vão ocupando nosso espaço sem mais platéias nem mais aplausos. Seria apenas um ensaio. Única cadeira e vazia, acompanhada com o tapete ao lado. Uma luz ainda meio sombria e murmúrios da penumbra que fantasia uma fumaça qualquer.
Nem mesmo o chão range as nossas pisadas, perece-me encabulado. E nosso cenário, aquele mesmo que seria encantado, não pode resistir aos gastos. Seu figurino irritante, repetitivo á cada espetáculo suporta a rotina das falas, macacão encardido, fedido.
Sentada com as pernas cruzadas observo seu esplendor aos ensaios, declamas alguns versos e a soberba no teu movimento é meticulosamente calculada, e quando enfim a poeira baixa aparecem os rastros que deixou na madeira velha. Acomoda-se também no inverso canto do palco, cruza as pernas e passa a me contemplar com os olhos molhados. Eu espicho-me cambaleando de lado á lado. Convoco meio mundo de gestos para te impressionar em mais um ensaio.
O dia tão grandioso nos encontra ‘’O DIA DO ESPETACULO’’. Cenário montado, figurino engomado e a platéia ansiosa á espera do nosso compasso. Espia-me do outro lado da cortina e espera o terceiro sinal de entrada, o palco arregala seu tecido denso e tenso por nossa entrada, naquele momento em que a surdez enaltece os próximos passos aparecemos a meia luz no centro do palco.
Contudo no grande espetáculo não lembramos nossas repetidas falas,o texto se desfez com a poeira do teatro, recordamos apenas que ali não haverá cenário, nem mesmo figurino e muito menos aplausos.
Nossa peça de teatro....

domingo, 14 de março de 2010

Num descompasso só

Nesse romance eles são bem longos e desajeitados. No começo era bem engraçado, um descompasso só. Às vezes ainda encabulada ela vestia-se de princesa e ele a reparava. Colocava salto alto e um belo colar. Ele todo encantador fazia suas costeletas para acompanhar o sorriso muito bem arredondado, que só ele tinha.

Não se viam assim desde suas ultimas lembranças, descalços no meio da chuva com as mãos soltas. Do chão só se via as gotas de suas pisadas como meninos abestalhados diante de muito doce.

Ela então passou a reparar no espelho que já havia esquecido em seu quarto e não mais encontrava suas poesias nos traços falhados de sua caligrafia, pois agora já se deliciava com aqueles olhinhos que iriam lhe acompanhar em suas próximas aventuras não tendo assim mais tempo para amassar papéis. Ele deixou seu cabelo crescer e novamente cantou para ela, dançou no meio das multidões e fez serenata debaixo da cachoeira, num lugar chamado Formosa. Seriam assim e já decididos não se curvariam mais as tristezas da vida.

Contudo naquele dia qualquer em que ela encostou o corpo no ombro dele ainda meio tonta de preguiça sentiu seus braços, aqueles bem longos, a lhe fazer um carinho cauteloso, desconfortável e logo sentiu sua ausência. Ele quando percebeu a distancia de suas mãos daquela cinturinha sinuosa de tantos doces, não suportou o aperto no peito. E assim se desfez. Daquele instante tão preciso em diante eles não se veriam mais.

Ela após assanhar o cabelo se encolheu no seu jardim. Ele não muito diferente buscou seu passado, bem certo de que voltaria sem lembranças pelos palcos afins. E não se deram conta de que não adiantaria mais tanto esforço.

Nos papéis amassados ela voltaria a escrever, deixou as unhas crescerem e chorou tanto que seus olhinhos de meninas não saberiam mais para onde olhar. Por seus contos deixou que cada instante lhe fizesse anestesiar aquela dor. Molhava-se na chuva do inverno que se aproximava mais seca de lá saía. Foi aos bares camuflados esperando que sua música tocasse mais uma vez, uma ultima vez que fosse e voltava pra casa ainda mais triste.

Menina tu ta fraca, menina tu ta muda, menina tu ta feia, menina cadê tu? Todos davam um reparo nela. Ela ainda mais doce afagava com seus longos dedos o rosto daqueles que a lamentavam. Não se importaria mais com muita coisa e desenrolou mais uma vez suas pernas para uma longa caminhada. Gostava dos seus próximos contos, gostava de sentir mais uma vez cheiro esquecido da sua cerâmica e o tremor de suas mãos nos desenhos que ousara fazer, mas não gostava de não saber mais usar as pernas trocadas. As pernas que apenas ele saberia usar que lhe foram dadas numa manhã qualquer, ressacados das travessuras da noite anterior sem medo algum de não se saber pra onde ir. Por isso aquela anestesia no peito, aquele vazio no olhar e aquele cuidado extremo com o que vestir. Era por causa daquelas pernas que ela não dançaria mais.

Num gesto de desapego com a solidão o procurou novamente. Escreveu-lhe com as palavras mais encantadoras, elogiou a saudade do cheiro que tanto sonhava sentir mais uma vez e sem muito falar, constrangida pelo sorriso de esperança no rosto, propôs mais uma noite de amor.

Daí em diante tudo era ligeiro, as pessoas passavam correndo e até o vento que contornava seu rosto era empurrado de lado para que cada segundo pudesse passar mais depressa. Vestiu o seu mais lindo decote e as pernas trêmulas foram enfeitadas com sua meia de tarrafa preta enquanto derramava descontroladamente seu perfume. E espera ansiosa pelas suas belas costeletas e seu inesquecível sorriso muito bem arredondado.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Ainda me confundo com meu eu defunto
Trago-inalo- sua epiderme espessa com amarrons dilacerados
Engasgo-me com os pelos encravados em minhas lamúrias
E sou corpo amarrado, encaixotado e enterrado....

terça-feira, 9 de março de 2010

Por onde andam meus óculos?


Meu semblante anda meio arrastado, inconformado com a forma que estou tomando.... Hoje, acordei com sulcos por todo o corpo, como caminhos traçados pelo tempo....
Encarei-me de fronte ao espelho, mas havia me esquecido de cobrir meus olhos com minhas lentes de contato....Tudo embaçado, meu corpo, minha alma e meu traço...Pus-me a esfregá-lo para que um gênio pudesse aparecer e realizasse meus anseios, contudo, dei-me conta da mancha avermelhada que surgia.... E logo pude perceber que o que saia de seu ventre eram apenas algumas poucas gotas de lágrimas....

sábado, 6 de março de 2010

NUM pisca-PISCA

BELISCANDO as pontinhas dos dedos olhos ATREVIDOS luz-PEQUENA-lucidez

terça-feira, 2 de março de 2010

A hora do Grito

É quando minha carne trai
meu corpo se refaz,
É quando não entendo o mundo
E não meço o tempo, mudo,
É quando me pergunto o porquê
deparo-me com o não sei o quê,
É quando me lembro dos teus olhos
conjugo-me desatinada,
É quando sinto tudo isso
na porta do paraíso
na beira do precipício,
É quando meu peito se anestesia
acalmo-me e não abro,
É quando me suporto, me decoro,
É quando me invejo e não nego,
É quando me transporto,
É quando sou protagonista
implorando um segundo plano,
É quando sou figurante
declamando papel principal,
É quando existo, persisto, promiscuo,
É quando teus olhos mudam de cor
É quando escrevo torto
e me questiono pouco,
É quando deito de lado
joelho dobrado
cabelo amassado
e penso ainda mais,
É quando sinto saudades
um passo á paisagem,
É quando pinto com tinta
o que é pra ser castigado,
É quando mordo errado
o que é pra ser pintado,
É quando durmo um pouco
do amanhecer mais belo,
É quando aquarela de cores
o anoitecer de horrores,
É quando me cai o sono
no dia segundo e me enche os sonhos,
É quando estou e não dito
um quarto lacrado
pertenço enlatado
e o branco ao lado
repentinamente
prateado,
É quando combino comigo
A hora do grito
Hora do grito
Do grito
Grito
Grito
Grito
.....

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Porque teus olhos mudam de cor...

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Para a Academia Onírica ( homenagem a Roberto Piva)

Para essa noite configuro-me
dês-mundano
mundano
Pulso superego e sou só palavras
Visceral
Vinda aquém á tuas mãos
Ida além á tuas fantasias

Convenço-te a me notar
Sussurrando
E tu
condutor vibrante
em teus delírios
procura,
o que meus lábios escondem.

Pareço-te mais breve
E encantado
Pelo som que emito
Torna-me
Toca-me
longe
Com se agora mesmo
estivesse entre minhas pernas.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

PURIFICAÇÃO

No orvalho suspenso ao gramado
um carpete enfeitiçado
de comuns iguarias floríferas
Conduzindo o dia mesmo que segue
repetet—ido
o vingar dos que não—ou—fim
pousaram seus pensamentos
Incomuns e improváveis aquisição de cores
lisérgico por não começar
Inquieto
por chegar ao seu limite ultimo
sim—ou –fim

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

SONHOS

Por um momento achei que não conseguiria mais escrever
Sonhei ontem contigo numa noite onde tocam os sinos e suspiram sonhos
Aparecestes pra mim encoberto de saudades nossas, caminhando nos cascalhos mórbidos do meu jardim ignorando nossa decisão racional de não mais nos amarmos.
Em sonhos meus tudo é possível e mais uma vez te cheirei a face e mordi descaradamente teus medos
Em sonhos meus teus olhos brilham ainda mais e sinto tua pele latejar entre minhas virilhas
Em sonhos meus tu desmancha minhas sardas borrando meu pudor em tua carne branca
Em sonhos meus dançamos,
olhares, suspiros e desejos.
Em sonhos assim não podes me negar tua alma e acredite,
é ela que nutre meus vícios e ateia em minha vida
tua
minha
nossa
insensatez .

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

DELÍRIOS



Delírios
de solidão constante
Um luar esmaecido,
Concúbito interrompido
Ausência de carne
um gozo
Corpo estremecido
O chão ainda gelado
Cauteloso
Saia mordida por mãos alheias
Passo de dança feroz sobre roupas de cama
Irracional
Imoral
Á procura o cheiro do outro
derrama seu néctar sobre a pele suada
Pudor descoberto pela manha que se aproxima
Despertar e mais um dia
Delírios
de solidão constante

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

COLHEITA

Trago pra casa
um poema,
a viagem já
valeu a pena

Marina Colasanti

MAR


Ainda embriagada da nostalgia marinha me acaricio vagarosamente ouvindo o ronrar que de resquícios ficou em meu peito insone após ter passado uns poucos dias trafegando entre sonhos e realidade. O mar estava lá entrelaçado com uma legião de admiradores que diariamente vão ao seu encontro louvar o que nem mesmo entendem ao certo. Tenho contudo, uma versão bem interessante dessa maestria marinha. Minha posição de menina do mar me é suspeita ao falar dele, pois sou pedaço fluido de suas águas. Seu mistério penso eu, ser o espelho dos nossos. Durante os dias em que estive ao seu lado incansavelmente eu estava á contemplá-lo e ele em troca cutucava-me delicado para que eu pudesse espiar suas travessuras e assim compreender um pouco mais - repito, um pouco apenas - a vida. Encantava-me com simples respostas para que eu pudesse despejar em suas águas gotas salgada de minha carne amolecendo minha rigidez humana. Quando me percebia estava espalhada em seus braços, pedaços meus misturavam-se ora com sua superfície sendo jogados cruelmente em seu porto e ora conduzidos á suas profundezas mostrando-me um mundo mágico encoberto por toda aquelas águas. Transcrevo aqui uma experiência mágica que tive num rabisco de minha estória, e o faço por transbordar palavras de meu corpo que agora me instiga.
Perguntei-me enquanto era acalantada pelo mar o porquê de tamanho mistério, se ali não teriam apenas águas que iam de uma ponta a outra da terra para o fim apenas de alimentar a vida. Mas bem mais que isso percebi quando mergulhei em seu silencio lembrando-me de uma vez em que estive dentro de seu mundo (mundo esse que voltarei) num lugar alcançável apenas a desbravadores que procuram entender um pouco mais de magia. E lá em suas profundezas é onde ele esconde toda a sua incansável beleza. Em sua superfície como uma vida qualquer ele entrega á calmaria e á turbulência, esse vai e vem de suas águas que desprende de seu corpo o que lhe machuca e traz para si o que lhe faz sorrir. Às vezes ele, como um simples mortal, leva para si um pouco do lixo da vida, mas em troca conduz a sua margem uma força sobre humana acordando o mundo para sua importância. Percebi essa similaridade entre nossas vidas enquanto velejava em suas ondas e encantei-me ainda mais pela força e os mistérios daquele gigante de águas inquietas. Como uma vida comum ele entrega sua superfície para o vai e vem indiferente ao mundo hoje, e lá dentro no seu lugar mais intimo guarda um mundo que além de belo é composto pela ausência de tempo tornando seu espaço ilimitado onde suas cores compõem uma escala cromática surreal aos pobres olhos conformados dos humanos. E onde nasce, floresce e abastece toda sua força e beleza.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

HORA VADIA

Menino bonito
O que me encantas em ti?
Um sorriso apenas?
Tão comum entre tantos outros
Ou será a insensatez da hora vadia?

Encontro-te á margem do precipício
Não me declare mais esse sorriso
Tenho pra mim,
Enfim
Minhas longas pernas
Um fim de noite
Uma dose apenas
E me torno uma péssima equilibrista!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

RUIVO

Poesia declamada
Olhos fitados
Um encontro só nosso

Banhos de piscina,
Tintas no terraço,
Baladeiras,
Petecas,
Esconde-esconde!

Outrora num remelexo do reggae
Um pedaço meu e teu
Compreensível!
Contudo,
Flutuando ao teu lado
Desconcerto-me toda!

Formosos desbravadores
Pé de manga, guabiraba,pitombas e cajus!
Perdia-te ás vezes na multidão de cabritos
E logo te via nas nuances da cachoeira

Ouço então uma risadinha
Olha que louca!
Toda desajuntada!

Espero tua resposta
E me refaz princesa
Encobre minhas mãos trêmulas
E me conduz ao palco
Afirma: És a mais bela!

Mesma sala de aula
Meu primeiro namorado
E cauteloso,
Esconde as palavras
Desilusão!
Não inconformado com minhas primeiras lágrimas
Apresenta-me os sonhos

Então partiu
Inconformada,
Temi á distancia
Pensei então que não me conhecerias mais
Contudo,
Amor
Laço por demais delicado
De dois meninos encarnados!


Sou sim tua princesa
A mais bela para ti
Já me basta
Sempre ao teu lado
Junto ou separado
Desconcertada mesmo
Continuo a flutuar
Na dança,
Nos sonhos
E nas palavras!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

MEU TEMPO E EU....Mais uns de seus devaneios


O que levaria uma menina assustada a escrever? No meu ver uns tantos pedaços de dor já basta!
Quando me questionava sobre a ousadia minha em me tornar uma poetiza me encabulei ao perceber que não tenho tantos recursos para tal. Confiei em minha pulsação angustiada de viver enquanto transmudo com delírios afins. Acompanhava-me nas caminhadas diárias á procura de um suspiro qualquer de inspiração para me satisfazer enquanto escrevia.
Besteira a minha, sempre tive na verdade essa mania besta de esperar um grande encontro com a luz poética, seja nas palavras escritas, seja na composição das cores ou então nas manchas barrentas de minha argila. Não me atrevia a desapontar qualquer olhar critico sobre minhas criações e principalmente me curvava ao meu olhar que insistia em condenar minhas escolhas cromáticas. Contudo aprendi a seduzir o tempo, esse mesmo que me acompanha agora, pois antes ele era inalcançável, cruzava vez ou outra minha estrada como um sábio mestre que vez em quando acariciava minhas escolhas e antes mesmo que eu pudesse reconhecê-lo escapava como uma fumaça quando encontra uma suave brisa. Hoje me acostumei com a idéia genial de que eu e ele somos um só. Olho-o agora como um pedaço meu que não me estabelece limites e fases, tirando assim essa idéia tola de que ele com os segundos, os minutos, os dias ou os anos passando irá me tornar uma grande mulher, mais sabia e madura. Não o quero num futuro, não o quero numa pretensão de me torna algo, quero-o agora, aqui enquanto escrevo. Quero-o enquanto vivo minhas escolhas certas e principalmente nas erradas para poder senti-lo mais forte, mais presente.
E esse tempo que aqui me revela a escrever uns poucos desabafos me tornando mais complacente com minhas poesias me conduz a uma posição agora sem mais convicções e frases prontas. Sigo curtindo minhas proposições do que é poetizar e porquanto vou quebrando todas as regras e vez e outra consultando um amigo dicionário e um coração ora contente ora amargurado.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

CORTAR O TEMPO

“Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,
com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente"

Carlos Drumond de Andrade
''Enfim,
Amado espelho
Que sorriso mais encantador!''

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

AO AMOR (continuação)


Ao amor,
Magentas, carmins avermelhados
Á chuva,
Descanso o olhar
E configuro-me a inalar sua fragrância
Ao amor,
Ocre, terra e alaranjados
Á solidão,
Umedeço-me com orvalho lacrimejado
Alguns papéis amassados
Ao amor,
O musgo, o verde azulado
Á gratidão,
Peco uma vez mais
E ouço sua voz mansa
Ao amor,
Azuis, anis e violetas
Aos poemas,
Sorrisos apenas
Sua chegada
Ao amor,
O branco
O preto
E mais nada!

domingo, 7 de fevereiro de 2010

ALTAR

Enquanto me contemplavas no altar
Aquele mesmo que construístes
Sem ao menos perceber que não me cabia tal resignação,
Preocupavaste apenas em farejar minhas rasuras

E Lá de cima
Eu mesma vinha despindo aos teus pés
Pedaços estragados da minha estória
Quando enfim conhecestes meu cheiro podre
Sem uma gota sequer de compaixão
Pude então conhecer tuas costas.
Opostas!

Saistes num ritmo lento
Vez em quando espiavas
Conferindo mesmo aquela minha forma estranha
Esquecia-se, contudo,
Que me pusestes lá com as próprias mãos

Olho-me La de cima
Incomodada com os pedaços que não levastes
Logo aqueles
Que mais me pesam a face
E que foi por eles,
Não lembras?
Que construístes o altar

Agora me confundo sobre tal pretensão
Uma persistência tua em me santificar
Fraco por tanto esforço em vão
Desatento e desorientado
Deixastes que escapasse
Meu único pedaço fresco.
Agora te pergunto:
Valeu tal pena?

E sobre o altar
Que construístes para mim
Garanto-te desocupar em breve
Para que possas conduzir outro corpo qualquer.
E assim vais repondo em tua laje
Imitações
Do que só encontrarás em mim

sábado, 6 de fevereiro de 2010

CHAMA

Já faz tanto tempo
Talvez seja tarde
Esse chão cinzento
Uma chama ainda arde
Todo o meu lamento
Por não poder entender
Se hoje mesmo com saudade
Finjo não te conhecer

Que é pra ver
Se ainda há brilho nesse teu olhar
Que é pra ver
Se essa canção ainda te faz lembrar
De tudo aquilo que teu coração
Custa esquecer
Quero ver
Se ainda emociono você


DOMINGUINHOS

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

UNS POBRES VERSOS

Hoje não quis mesmo escrever versos
Deitei-me na calmaria das minhas flores

Chacoalharam minhas cadeiras pedindo um pobre poema sequer
E fingida dei a elas um sussurrar contendo rimas quaisquer

Voltei-me a sacolejar minhas longas canelas
Contudo, não conformei a impaciência daquelas flores
Agora gritavam descontrolados poemas de amor

Desaforadas!
Bem sabiam como me fazer chorar

Pois bem,
Aqui então escrevo á elas
Satisfeitas?

Sim!
Sinto enfim os mais belos perfumes!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010




''Sua mão estendida verticalmente num ultimo e enfraquecido esforço permanecia encoberta pela neblina que se estendia a uma distancia onde seus olhos não poderiam alcançar. Ele que outrora sussurrou ser seu anjo havia partido. Ela ainda embriagada pela solidão, após estender o longo braço a sua procura em um desequilíbrio lento foi se esmaecendo ao chão. Os joelhos quebrando-se conduzindo as pernas em forma de ''z'' para apoiar seu corpo trêmulo que viria enfraquecido pela derrota. Nunca antes perdera um anjo. Deitada com a cabeça cambaleando no seu braço incansavelmente estendido agora ao chão numa nostalgia que lhe trançava um caminho onde os fios eram alternadamente o medo e a esperança de levantar mais uma vez. Não acompanhava o tempo deixando-o num embaraço diante daquele corpo estendido, sem pressa, sem forma e sem qualquer paisagem a ser contemplada.
Nesse instante, contudo, ela acompanhava apenas o compasso do jazz que se acomodou aquela cena. ''

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

AO AMOR


Ao amor,
Ofereço minhas cores!
Ao tempo,
Imploro um espaço
Pequeno que seja
Que me caibam as palavras
Ao amor,
Ofereço minhas cores!
Ao medo,
Ignoro-o
Pretensiosa
Dou-lhe um chega pra lá
Ao amor,
Ofereço minhas cores!
Ao corpo,
Suplico por mais um pouco de açúcar
Ao amor,
Ofereço minhas cores!
Á arte,
Entrego-lhe a alma
Os olhos
Ás mãos
Á pele
Os sentidos
Á vida
Ao amor,
Ofereço minhas cores!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010


Pequena
Foi grande e precisou se curvar
Torta então resolveu ficar
Sua beleza se encobriu de desgosto
O torso,
Torto
Grosseiro ficou!
Que besteira a sua de crescer,
Chamaram-lhe de pequena
Olhos arregalados,
Que atrevimento!
E foi esse jeito atrevido
Que á tornou pequena outra vez.

PRA VOCÊ


Não quero rancor
Nem mesmo perder o sono
Quero boas lembranças e a esperança de encontrar a paz
Quero o tropeço acalantado pelo abraço carinhoso
Quero ser sincera apenas!
Sem medo e prudência
Aprender a conversar e não gaguejar
Encarar o que é de mais sublime em ser humano
E confortar meus olhos
Amar sempre e rastejar a procura do cheiro que me conduz o corpo
Quero perder o pudor
Quero dia a dia explorar-me
Instigar-me a vida
Vestir meus sonhos mais uma vez
Não ponderar meus devaneios
E aprender que tudo acontece em seu momento
Não irei mais me comprometer com a santidade
E que minha fé não me torne sagrada!
Quero morrer de rir com o tempo perdido
Aproveitando assim o segundo presente
Quero acomodar todos os meus amores no canto do peito
E sem culpa pedir que dêem espaço para o amor próximo
Quero me contentar em estar viva apenas
E não mais culpar-me por escrever meus mais secretos anseios.
Quero escrever-te sempre e apaziguar nossas duvidas
Tornar os dias mais compridos
E te abraçar quando por ventura te encontrar.
Quero poder seguir seus olhos contentes pela serenidade reencontrada
E sentir-me completa por te amar
Não me preocupo mais pela distancia ou desencontro
E sim relembro a mulher que descobri ao teu lado
Quero ouvir uma boa musica
Assistir um bom filme
Tomar um bom vinho
Quero dançar mais uma vez
Quero escrever minhas estórias infantis e aventuras amorosas
E sonhar sempre
Pois enfim
Estou perto da paz
E quero sem medo
Agradecer a ti por me ensinar o quanto esmero é o amor
E que diante dele somos apenas marionetes.

domingo, 31 de janeiro de 2010

FORMOSEANDO


Essa formosa sempre atrevida, logo de chegada o chiar das palhas ainda secas, pois nesses tempos a chuva vem pausadamente se fazendo charmosa para nossos rostos apreensivos. Logo depois do festejar das palhas ela nos acalma com as paredes coloridas de pequenas estórias contadas nos dias infinitos de suas farras. Falo de farras porque ela tem esse dom de nos atrair para o deslumbre, da musica cantada ou mesmo dedilhada nos violões, do bom vinho e das jogatinas sem fim. Farras acompanhadas do arrastar de chinelo em sua cozinha a procura das especiarias que ajudam a compor um cenário a meia luz. A penumbra meticulosa se dá não apenas pelas velas em dias que a luz resolve faltar, mas porque na sua delicada arquitetura transborda o mistério e a leveza não podendo ser assombrada por qualquer claridade obvia. Farras também movimentadas pelas peças teatrais das crianças que outrora acariciam suas paredes com pincelas soltas de tintas. Falo hoje de uma formosa ainda sossegada, sem o rugir das cachoeiras. Uma formosa que mesmo perseguida pelas inquietações que levamos da cidade na certeza de entendê-las melhor se faz majestosa e nos absorve de qualquer pecado.
Quando amanhece logo o cochicho rotineiro, sentimos o acordar de cada aposento. Uns mais preguiçosos e outros já eufóricos. O café já exposto na mesa é alternadamente reposto durante horas sem pretensão alguma de acabar. Logo se faz a casa cheia, crianças correndo pelos corredores, o som da televisão que persiste durante o dia todo e o gargalhar dos primeiros goles na cerveja gelada. Começa-se então a prontidão na porta de fora, com cadeiras em circulo acomodando um a um numa conversa longa no quintal debaixo da mangueira. Ah que bela mangueira aquela! Sempre com a sombra requintada que nos acoberta a espera das chuvas no banho de piscina improvisado.
No tardar do dia se dá pela procura por uma trilha, a busca infindável por uma gota sequer de água pura para suavizar a sede a espera das águas da cachoeira. A trilha já familiar é cantada por cada explorador. Coco babaçu, palmito de terra, areia cintilante, o chocalho barulhento da mata, topadas nos cantos das pedras e de repente o olhar cai sobre o vale de pedras grandiosas. Nesse vale contempla-se o rastro da água impiedosa. Mesmo na secura desses tempos brota do poço mágico um banho revigorante no canto da primeira cachoeira, e vamos todos sem pressa mergulhar, acompanhados apenas da cautela por causa das piabas que La habita que aparecem saudosas e persistem em nos assustar com suas abocanhadas.
Na noite a gratidão pelo dia primoroso se destaca do rosto de cada um. O peitoril começa a tomar forma humana e acomoda todos a espera do pão. Deliciosamente satisfeitos nos acomodamos no vasto campo, longe da sombra da mangueira, com o mesmo circulo insistente das cadeiras de macarrão agora com um bom vinho para acompanhar o céu estrelado e o tagarelar já pausado das conversas intercaladas pelo silencio e inconfundíveis suspiros instigados pela beleza que só mesmo nossa querida formosa oferece.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

POEMA

Eu hoje tive um pesadelo
E levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo
E procurei no escuro
Alguém com o seu carinho
E lembrei de um tempo

Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era ainda criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou consolo

Hoje eu acordei com medo
Mas não chorei, nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via o infinito
Sem presente, passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim
E que não tem fim

De repente, a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu há minutos atrás

Cazuza

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

MESMICE

O que me atrai na mesmice?
Acordar eu mesma todos os dias
A secura da argila mesma
Insensatez da mesma hora
Do mesmo gozo
Minha fragrância ainda fresca
Minha mesma cidade
Inóspita!

O mesmo regurgitar das cartas
Palavras ainda cruas
Ao relento o mesmo fraquejar do dia mal amado
À noite caindo sobre os ombros cansados
O mesmo olhar atordoado!

Não me atraio mesmo
E mesmo sendo constante
Não pondero a mesma pergunta insana
O que me atrai na mesmice?

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

TPM

Dias lacrimejados
Sangue-suor-tensão!

O que não me serve mais,
Deposito num papel qualquer.
Sem desculpas
Sem sossego
Contorcida de dor

Transfiguro-me mulher indesejada
Alma afugentada
Passadas largas confundindo o tempo

Não me contemple
Proponho-me a não sorrir!

OS BAIANOS


Cachos e mais cachos
Dourados
Olhos fitados pelo sorriso
Conversa de menina espevitada
Coisa de arquiteto
Tinta fresca
Rede armada no jardim
Talharim, Tacos, Gorgonzola!
Uma taça,
Cartas
E mais uma dose!
Semblante embriagado pela PAZ!
Ouço um som
Olho contornando o ombro
E Lá estão
Queridos baianos.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

PERDOEM-ME A FALTA DE MODÉSTIA.

Poemas, contos, estórias, rabiscos, etc... São estes meus condutores diários, maneira minha de trapacear a vida pra curar-me dos desencontros que ela me tem proposto. Sempre fui um forrageira de idéias contendo-me a não provoca-las pela falta de coordenação entre minhas mãos, meus lábios e meus sonhos. Traduzir-me em palavras escritas só mesmo debaixo da cama quando a noite vinha para que ninguém pudesse me desvendar.
Um dia qualquer percebi que não era mais segredo para ninguém, as pessoas que trafegavam comigo em minhas estórias inventadas estavam a par de todos os meus mistérios e cobravam-me uma postura mais elegante diante deles.
Foi então que me desfolhei diante de todos sem a preocupação de aparecer bem vestida e com palavras enfileiradas pela concordância gramatical sugerida pelos grandes escritores, pois ainda bem pequena sou. Fui dedilhando meus contos impregnados por um final ainda trágico de uma linda estória de amor. Tolas seriam minhas desculpas para escrever afinal todos sabemos que para as palavras um motivo qualquer basta, mas eu estava me sentindo sobrecarregada de motivos, transbordado, explodindo. E não tive outra escolha. Agora diante dessa minha aventura esmera de escrever me proponho a cultivar minhas raízes fraquejadas pelos medos que me cercavam, quero aguá-las com a sublimeis da poesia em que me encontro fortalecendo meus sentidos e as flores que brotarão dos meus longos dedos. Ando, contudo inconformada com os espinhos que vez ou outra me rasgam a pele branca, mas agradeço minha falha memória diante de tais dores.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

QUANDO APRENDI A AMAR

Não posso escrever sobre ele!
Tão pequeno que me consumiria todas as entrelinhas
Dia a dia
Escapou-me numa noite qualquer
Caiu do meu ventre e de já me olhou
Pequenos olhinhos castanhos
De certo seria alaranjado
Mais logo tomou forma
E o nariz ficou arredondado
Daí então me viram correndo pelos corredores
Cuidado menino!
Venha cá meu filho,
A mamãe vai te curar!
Meus braços
Antes pequenos
Agora gigantes
Meu sorriso
Antes calado
Agora insustentável
De tanto amar.

DOMINGO

Escaparam-me os azulejos
Meu suor nauseadamente doce
Revelava-me ao público.
Lucidez sublime
Pupilas dilatadas
E a insustentável leveza das cores!

sábado, 23 de janeiro de 2010

MEU JARDIM

Cheiro de chuva
Uma buganvília
Um poema!

MINHA SAPATILHA COR PÚRPURA

Minha sapatilha cor púrpura
Arranhou-me enquanto dançava
Com uma desculpa tola
De que meus pés diminuíram,
Imagina só
Meus pés tamanho 40!
Mas eu sabia de seus mistérios
Conheço suas pisadas
E o que lhe fez inconformada
Foi minha maneira descarada de dançar
Nunca me vira assim
Sapateando
Exibindo-me com meu novo rebolado
Tudo era novo
Jóias
Vestido
E penteado!
Pobre sapatilha
Insistia na desculpa tola
De que meus pés diminuíram.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

AMANHECER

Hoje despertei com sussurros alternados, parecia-me uma composição não proposital mais tinha um belo compasso para começar um dia. Cada nota daquela melodia contraia minha pele ainda adormecida. Logo me ocorreu de decifrar aqueles ruídos percebendo que aquela seria meu despertador diário. Era aquele o som de minha casa, que chegava do jardim embaralhando-se com o roncar delicado do meu pequeno príncipe. Ouvi os cantos dos pássaros que certamente estavam a cutucar no jardim as flores que se exibiam para o amanhecer. Ainda de olhos fechados senti seu cheiro, reconhecia em suas entranhas o meu sangue. Isso é que mais me fascina em ser mãe, saber que aquele ser divino é um pedaço meu. Então abro os olhos sem pressa, arrasto-o de seu cantinho da cama para bem perto de mim. Me curvo sobre seu corpo como se pudesse senti-lo em meu ventre novamente. Como uma ave aquecendo sua cria e protegendo-a dos males que cruzarão seu caminho. Um dia li, minha falha memória não me lembra onde, que uma mãe descrevia com dor o amor que sentia por seu filho. Aquela dor maternal por amar demais e saber que aquele amor não privara seu pequeno das dores que ele iria provar na vida.
Hoje me questionei sobre essa dor, e provei mais uma vez seu gosto. Pensei em super poderes para mães, em um bip que avisasse que o mal está para vir e varias coisas do tipo. Parecem absurdas para quem ler meus pensamentos, contudo não será para as mães. Esse medo constante que consome e perigosamente nos faz podar os passos dos pequenos com proibições do que brincar, do que comer, de onde andar, do que falar, de como viver. São insuportáveis, eu sei, mas são maternais.
Lembro-me de queixar-me com meus pais de que queria sim sofrer, queria sim suportar as dores da vida se para isso eles me deixassem viver a minha maneira. Dizia com um tom de maturidade, mais ou menos aos meus 16 anos de idade, que não queria provar dos medos que eles, meus pais, provaram e sim dos meus próprios medos. E que viesse a dor, viesse os obstáculos, estaria disposta a vivenciá-los e certa de que só assim cresceria.
E certa eu estava. Foi com minhas escolhas que aprendi me machuquei e cresci. Eles como todos os pais choraram a me ver chorar e gargalhavam a me ver sorrir. Hoje pertencendo ao clube de pais, me conduzo a também deixar meu filho vivenciar seus dias sem podá-lo, sem enchê-lo de medos da vida e de suas dores. Morro de medo de ele crescer, parece loucura mas penso no dia em que ele ferozmente vier me pedir para viver sem meus medos e da forma que ele bem quiser. Essa condução imposta por mim ainda não me é agradável. Queira mesmo era que ele não saísse de meu ventre, que pudesse guardá-lo toda vez que sentisse uma brisa mais densa. Por enquanto vou arrastando seu pequeno corpo para dentro do meu e um dia quando seus pequenos pés me escaparem do corpo sofrerei mais uma vez.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

ALMA DE RETALHOS

Hoje fragmentei minha alma
Cortei-a de forma equilibrada
Distribui sobre minha cama ainda desarrumada
Descartei as partes encardidas
E acomodei as que ainda cintilam
Tentei costurá-la novamente
Cada ponto dado
Na minha ‘’Alma de retalhos’’
Fora bem elaborado.
No deitar do dia
Vesti-me dela como se veste um novo modelito
Mais ficou esquisito
Curto demais
Também pudera
Roupas curtas nunca me caíram bem!
De volta aos pontos
Tracejei a linha vagarosamente
Dessa vez me consumi do desequilíbrio
E foi com os pedaços encardidos
Que vesti-me do mais lindo vestido!

PROVOCAÇÃO

Queres provar um pedaço meu?
Eu que tanto rastejei pelas feiras
Comendo tomates podres
Rúculas amargas
Eu que me acostumei a cair das roupas
Aprendi a pintar meus dedos
Escovar minha franja
Depilar meus seios
Espremi minhas espinhas
Não quis mais doce
Não quis mais coca cola diet
Nem mesmo no canto do prato
Deixei que me alimentassem
Topei nos cantos das mesas
Queimei no sol minhas sardas
E congelei meus pedaços rígidos de carne
Queres mesmo um pedaço meus?

Sem nenhuma pretensão. Apenas mais um de seus causos em seus pequenos contos.

Sem nenhuma pretensão, de repente ela abriu os olhos e ele não estava mais lá. Como em um gesto desesperado, fechou-os novamente como se selasse o passado. Mas não podia mais abri-los, não entenderia mais nada.

Sempre que se encontrava perdida imaginava-se no mesmo lugar, lá nesse lugar onde só ele a teria levado ela andava com as mãos soltas, dançando com o vento enquanto sentia o beijo do mar em seus pés. E ainda assim de olhos fechados conseguia ver que ali era seu lugar.

Não estava mais só, eis que a vida havia lhe trazido um anjo. Um lindo anjo como aqueles de sonhos, com cachinhos dourados e nariz arredondado. Um anjo falador que lhe contava as aventuras da vida em contos que, ela já os tinha provado.Contos que sempre escrevia por linhas tortas e sinuosas, entre desenhos falhados por suas mãos tremulas de tão grande que era seus dedos.

Nesse mesmo dia ela percebeu entre suas compridas pernas escondidas na saia florida em que tanto desejou, uma brisa que jamais a tinha cruzado. Um frio congelou seu peito apertado e ela sentiu que pela primeira vez estava vivendo um de seus sonhos.
Um daqueles que a elevava para alem do que era escrito, prescrito, moldado e amordaçado. Um daqueles em que ela podia dar gargalhada com seus devaneios e que choravas como mais uma vez menina.

Sabia que, no canto guardado do peito, estava um segredo que a trazia para a realidade, mas que guardá-lo ali seria pretensioso demais para aquele sonho em que estava a deslizar. E se viu em uma encruzilhada.

Pensou:
--Me sentarei aqui e será nesse começo de tantos outros caminhos que cruzarei minhas pernas. Ah!!! Minhas longas pernas ficarão cansadas de tanto esperar.

Ali ficou, sentada, seu vestido já sujo da chuva do vento da secura do sol e das manchas de suas lagrimas, já não tinham mais flores.

Mas era apenas um sonho....