sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

AMANHECER

Hoje despertei com sussurros alternados, parecia-me uma composição não proposital mais tinha um belo compasso para começar um dia. Cada nota daquela melodia contraia minha pele ainda adormecida. Logo me ocorreu de decifrar aqueles ruídos percebendo que aquela seria meu despertador diário. Era aquele o som de minha casa, que chegava do jardim embaralhando-se com o roncar delicado do meu pequeno príncipe. Ouvi os cantos dos pássaros que certamente estavam a cutucar no jardim as flores que se exibiam para o amanhecer. Ainda de olhos fechados senti seu cheiro, reconhecia em suas entranhas o meu sangue. Isso é que mais me fascina em ser mãe, saber que aquele ser divino é um pedaço meu. Então abro os olhos sem pressa, arrasto-o de seu cantinho da cama para bem perto de mim. Me curvo sobre seu corpo como se pudesse senti-lo em meu ventre novamente. Como uma ave aquecendo sua cria e protegendo-a dos males que cruzarão seu caminho. Um dia li, minha falha memória não me lembra onde, que uma mãe descrevia com dor o amor que sentia por seu filho. Aquela dor maternal por amar demais e saber que aquele amor não privara seu pequeno das dores que ele iria provar na vida.
Hoje me questionei sobre essa dor, e provei mais uma vez seu gosto. Pensei em super poderes para mães, em um bip que avisasse que o mal está para vir e varias coisas do tipo. Parecem absurdas para quem ler meus pensamentos, contudo não será para as mães. Esse medo constante que consome e perigosamente nos faz podar os passos dos pequenos com proibições do que brincar, do que comer, de onde andar, do que falar, de como viver. São insuportáveis, eu sei, mas são maternais.
Lembro-me de queixar-me com meus pais de que queria sim sofrer, queria sim suportar as dores da vida se para isso eles me deixassem viver a minha maneira. Dizia com um tom de maturidade, mais ou menos aos meus 16 anos de idade, que não queria provar dos medos que eles, meus pais, provaram e sim dos meus próprios medos. E que viesse a dor, viesse os obstáculos, estaria disposta a vivenciá-los e certa de que só assim cresceria.
E certa eu estava. Foi com minhas escolhas que aprendi me machuquei e cresci. Eles como todos os pais choraram a me ver chorar e gargalhavam a me ver sorrir. Hoje pertencendo ao clube de pais, me conduzo a também deixar meu filho vivenciar seus dias sem podá-lo, sem enchê-lo de medos da vida e de suas dores. Morro de medo de ele crescer, parece loucura mas penso no dia em que ele ferozmente vier me pedir para viver sem meus medos e da forma que ele bem quiser. Essa condução imposta por mim ainda não me é agradável. Queira mesmo era que ele não saísse de meu ventre, que pudesse guardá-lo toda vez que sentisse uma brisa mais densa. Por enquanto vou arrastando seu pequeno corpo para dentro do meu e um dia quando seus pequenos pés me escaparem do corpo sofrerei mais uma vez.

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