quarta-feira, 20 de julho de 2011

Quando entendo o que os poetas dizem

E eu que já sabia tudo. Sabia que no meu mundo as pessoas andariam de braços abertos. Sabia que quando a lua ta cheia os lobos ficam mais ferozes e as meninas choram. Sabia também que quando agente escuta uma melodia e sente o cheiro da chuva é dia de fazer amor. Sabia um pouco. E eu que já sabia ter medo de tentar entender os que os poetas queriam dizer, eles sim já sabiam demais. Eles podem descaradamente nos despir de todos os pudores e dizer com o dedo apontado em nosso rosto que sabe exatamente de tudo. Eles sabem mesmo!
Certa vez um deles me disse que quando agente ama alguém é porque esse alguém é nosso espelho – MAS QUE CARA DE PAU - corri para o banheiro e vi ali, em meu desenho, todo o amor que eu guardava para meu amor, acho que pela primeira vez consegui ver a cor dos olhos do meu amor. Esse poeta descarado teve a ousadia de me dizer que quando nos olhamos no espelho esperamos ver alguma coisa que brilhe alguma coisa que nos faça esboçar um sorriso. Isso foi lindo! Lembrei de meu amor, lembrei que sempre que olho para ele vejo essa coisinha lá que brilha, e no meu corpo sobe aquelas formiguinhas estranhas que me fazem cócegas e eu abestalhada me vejo rasgando um dos cantos dos lábios para sorrir. Isso foi realmente lindo! Ele deveria ter dito apenas aquilo e ter se calado. Mas como todo poeta foi além. Ele disse que quando nos vemos no espelho e fixamos alguns segundos uma sombra escura embaça nossa vista e umas formas estranhas vão desfigurando nossa imagem. Isso me deu um engasgo!
Eu que já sabia de tudo fiquei perplexa. Vi no espelho os monstros que habitavam em mim. Vi meu rosto se desfigurando. Quanto mais eu via mais ele me fazia doer. Ele bem que podia ter ficado calado!
Nesse dia mesmo eu observei detalhadamente meu amor. Olhei para ele com os olhos vidrados, fixos e assustados. Lembrei daquele poeta que havia me assustado e tentei provar á ele que ele não sabia era de nada. Enquanto eu ficava imóvel olhando aquele espelho eu vi uma sombra surgindo nos olhos de meu amor. Ela tomava conta de todo aquele sorriso. Então percebi o porquê de ter medo de tentar entender o que os poetas dizem. Eu vi que era mesmo verdade essa estória de espelho, eu vi que agente esconde na pessoa que amamos tudo o que, queremos ou não, ver em nós. Ás vezes coisas demais são postas em nosso corpo, em nossa alma para que eles pareçam mais bonitos quando formos nos admirar em frente ao espelho, mas assim carregados de tantos quereres, nem mesmo enxergamos a simplicidade e a beleza do que o espelho nos mostraria apenas em estar ali despida e pintada com um simples sorriso. Até concordei com aquele incrível e agora admirável poeta. Eu até já sabia de quase tudo naquele instante. Sabia que era meu amor que me traria todas as mais lindas imagens que eu poderia sonhar, mas que seria ele também o tradutor de meus monstros. E que quanto mais eu procurava através desse espelho minhas sombras ele se tornaria uma imagem bem feia do que eu não mostraria para meu amor. Afinal não existe no mundo um amor mais lindo do que o meu.
E sobre os poetas... Eles sabem até demais!

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