terça-feira, 16 de março de 2010

O DIA DO ESPETÁCULO


Nossa peça de teatro. Cenas já tão marcadas pelas manchas do palco. Nessa mesma hora em que me corta com um grande salto recordo o texto mal escrito.
Ainda sem encaixe perfeito as cenas vão ocupando nosso espaço sem mais platéias nem mais aplausos. Seria apenas um ensaio. Única cadeira e vazia, acompanhada com o tapete ao lado. Uma luz ainda meio sombria e murmúrios da penumbra que fantasia uma fumaça qualquer.
Nem mesmo o chão range as nossas pisadas, perece-me encabulado. E nosso cenário, aquele mesmo que seria encantado, não pode resistir aos gastos. Seu figurino irritante, repetitivo á cada espetáculo suporta a rotina das falas, macacão encardido, fedido.
Sentada com as pernas cruzadas observo seu esplendor aos ensaios, declamas alguns versos e a soberba no teu movimento é meticulosamente calculada, e quando enfim a poeira baixa aparecem os rastros que deixou na madeira velha. Acomoda-se também no inverso canto do palco, cruza as pernas e passa a me contemplar com os olhos molhados. Eu espicho-me cambaleando de lado á lado. Convoco meio mundo de gestos para te impressionar em mais um ensaio.
O dia tão grandioso nos encontra ‘’O DIA DO ESPETACULO’’. Cenário montado, figurino engomado e a platéia ansiosa á espera do nosso compasso. Espia-me do outro lado da cortina e espera o terceiro sinal de entrada, o palco arregala seu tecido denso e tenso por nossa entrada, naquele momento em que a surdez enaltece os próximos passos aparecemos a meia luz no centro do palco.
Contudo no grande espetáculo não lembramos nossas repetidas falas,o texto se desfez com a poeira do teatro, recordamos apenas que ali não haverá cenário, nem mesmo figurino e muito menos aplausos.
Nossa peça de teatro....

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