quarta-feira, 31 de março de 2010

Nem mesmo sóbria posso ficar. Ontem, pertinho do amanhecer consegui escalar alguns metros de delírios, mas tenho medo de altura ela sempre me faz perceber como calafrios tornam-se gozo em minhas entranhas. Não costumo olhar para baixo, não procuro vencer o medo, consumo e pulso. Odeio-me por vezes que me encorajo, sei que são apenas delírios de minha covardia. E adoro minha covardia, não a traio mais, não a dito mais e não nego. E sim sou ela, me sou por ela e te dou com ela.

Nem mesmo sóbria posso ficar. Ontem, longe do amanhecer consegui planar sobre meu jardim. Nele vi novamente que poderia me louvar mulher, mas são apenas certezas de minha estória. Quando consigo por debaixo da grama sujar minha raiz da água da chuva, me acovardo novamente. E adoro minha covardia, não a traio mais, ela me recorda o grito da guitarra acompanhada de qualquer voz rouca, o suingue no gramado com estalar dos dedos na percussão e saio com a certeza de que devo voltar. Sou ela, me sou por ela e te dou com ela.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Um momento, por favor!

terça-feira, 23 de março de 2010



Pele minha,
esticada sobre tantas ilusões
Parece-me um balão de festa de criança
quando mexida com certa intensidade
estoura-se com muito alarde

Vê-se ao ar pequenos pedacinhos de papeis picados, todos coloridos
no chão as mãos alheias procuram um doce
alguma coisa que sobrou
á espera de uma criança ainda tímida com tanta correria

Pele minha,
esticada sobre tantas desilusões
Parece-me saco de roupa esquecido sobre o guarda roupa
Vez ou outra rasgados, na esperança de vestirmos o velho modelito
que por tantas vezes nos levou a uma dança
Contudo,
a noda que ficou em seu magenta ,enfraquecido pelo tempo
acompanha um cheiro de mofo
encobrindo quaisquer lembrança

sábado, 20 de março de 2010

MENINO BONITO

.....Ela em mais uma hora vadia da madrugada insone, reparava naquele sorriso que já noutros tempos lhe fascinara. Era aquele menino bonito de novo! Ele que por tantas vezes suspendia as longas pernas num ritmo de dança inconfundível, nessa noite a desenhava em desejos simples buscando uma gota qualquer de seu cheiro. Ela já havia desistido da luta que repetidas vezes travava nos cantos da noite escapando de qualquer motivo que a levasse para seus braços. E nessa desistência ousara contornar os olhos daquele menino com palavras escritas em guardanapos, deixando de lado qualquer lucidez.
Ele declarara á flor encarnada o que a tirava do ar. Ela como já havia lhe precavido em suas poesias, flutuando ao som do reggae se tornara uma péssima equilibrista. Estando em seus braços novamente ia exalando seu cheiro ainda quente enquanto mordia o belo sorriso que lhe seria a lembrança de suas próximas palavras.....


‘’Ainda queres me ler mais?
Antes mesmo de me despir ás roupas?
aquelas que balanço incansavelmente para chamar tua atenção
Agora me são de espanto
por estarem suadas em meu corpo
com perfume feito para aquela noite
Ainda queres me ler mais?
Pois assim me desfolho em teus pensamentos
outra descarada mania minha de chamar tua atenção
para que outrora me devolva àquela sensatez que me roubaste noutra noite
cantando cartola
Menino bonito,
Imploro,
Não me declare mais este sorriso
E prometo escrever-te para que possa me tocar em cada palavra’’

quarta-feira, 17 de março de 2010



SAMBA ASSIM

Fui alternando os dias de samba
Terça e quarta e sexta e madrugando
Com calos infectados a manhã que se ergue insana
Despeja a solidão ingrata na noite que segue

Um dos poucos sonhos que tive
Sambaleando na multidão ás 4 horas da madrugada
Numa obediência profana
Enrolava meu corpo esguio ao som do surdo
Tremia minha carne alva no chiar do pandeiro
Decantava minha alma azul nas cordas do cavaquinho

Na passarela contive meus trajes
Mas a noite não me confia á cama
Uma dama que descascava seu pudor ao samba
Outrora descansava o tal em desconhecida cama.
Por samba de mulato faceiro
Como uma suave brisa
Conduzia meu embriagado cabelo ao toque
Lento e meloso de seu travesseiro

terça-feira, 16 de março de 2010

O DIA DO ESPETÁCULO


Nossa peça de teatro. Cenas já tão marcadas pelas manchas do palco. Nessa mesma hora em que me corta com um grande salto recordo o texto mal escrito.
Ainda sem encaixe perfeito as cenas vão ocupando nosso espaço sem mais platéias nem mais aplausos. Seria apenas um ensaio. Única cadeira e vazia, acompanhada com o tapete ao lado. Uma luz ainda meio sombria e murmúrios da penumbra que fantasia uma fumaça qualquer.
Nem mesmo o chão range as nossas pisadas, perece-me encabulado. E nosso cenário, aquele mesmo que seria encantado, não pode resistir aos gastos. Seu figurino irritante, repetitivo á cada espetáculo suporta a rotina das falas, macacão encardido, fedido.
Sentada com as pernas cruzadas observo seu esplendor aos ensaios, declamas alguns versos e a soberba no teu movimento é meticulosamente calculada, e quando enfim a poeira baixa aparecem os rastros que deixou na madeira velha. Acomoda-se também no inverso canto do palco, cruza as pernas e passa a me contemplar com os olhos molhados. Eu espicho-me cambaleando de lado á lado. Convoco meio mundo de gestos para te impressionar em mais um ensaio.
O dia tão grandioso nos encontra ‘’O DIA DO ESPETACULO’’. Cenário montado, figurino engomado e a platéia ansiosa á espera do nosso compasso. Espia-me do outro lado da cortina e espera o terceiro sinal de entrada, o palco arregala seu tecido denso e tenso por nossa entrada, naquele momento em que a surdez enaltece os próximos passos aparecemos a meia luz no centro do palco.
Contudo no grande espetáculo não lembramos nossas repetidas falas,o texto se desfez com a poeira do teatro, recordamos apenas que ali não haverá cenário, nem mesmo figurino e muito menos aplausos.
Nossa peça de teatro....

domingo, 14 de março de 2010

Num descompasso só

Nesse romance eles são bem longos e desajeitados. No começo era bem engraçado, um descompasso só. Às vezes ainda encabulada ela vestia-se de princesa e ele a reparava. Colocava salto alto e um belo colar. Ele todo encantador fazia suas costeletas para acompanhar o sorriso muito bem arredondado, que só ele tinha.

Não se viam assim desde suas ultimas lembranças, descalços no meio da chuva com as mãos soltas. Do chão só se via as gotas de suas pisadas como meninos abestalhados diante de muito doce.

Ela então passou a reparar no espelho que já havia esquecido em seu quarto e não mais encontrava suas poesias nos traços falhados de sua caligrafia, pois agora já se deliciava com aqueles olhinhos que iriam lhe acompanhar em suas próximas aventuras não tendo assim mais tempo para amassar papéis. Ele deixou seu cabelo crescer e novamente cantou para ela, dançou no meio das multidões e fez serenata debaixo da cachoeira, num lugar chamado Formosa. Seriam assim e já decididos não se curvariam mais as tristezas da vida.

Contudo naquele dia qualquer em que ela encostou o corpo no ombro dele ainda meio tonta de preguiça sentiu seus braços, aqueles bem longos, a lhe fazer um carinho cauteloso, desconfortável e logo sentiu sua ausência. Ele quando percebeu a distancia de suas mãos daquela cinturinha sinuosa de tantos doces, não suportou o aperto no peito. E assim se desfez. Daquele instante tão preciso em diante eles não se veriam mais.

Ela após assanhar o cabelo se encolheu no seu jardim. Ele não muito diferente buscou seu passado, bem certo de que voltaria sem lembranças pelos palcos afins. E não se deram conta de que não adiantaria mais tanto esforço.

Nos papéis amassados ela voltaria a escrever, deixou as unhas crescerem e chorou tanto que seus olhinhos de meninas não saberiam mais para onde olhar. Por seus contos deixou que cada instante lhe fizesse anestesiar aquela dor. Molhava-se na chuva do inverno que se aproximava mais seca de lá saía. Foi aos bares camuflados esperando que sua música tocasse mais uma vez, uma ultima vez que fosse e voltava pra casa ainda mais triste.

Menina tu ta fraca, menina tu ta muda, menina tu ta feia, menina cadê tu? Todos davam um reparo nela. Ela ainda mais doce afagava com seus longos dedos o rosto daqueles que a lamentavam. Não se importaria mais com muita coisa e desenrolou mais uma vez suas pernas para uma longa caminhada. Gostava dos seus próximos contos, gostava de sentir mais uma vez cheiro esquecido da sua cerâmica e o tremor de suas mãos nos desenhos que ousara fazer, mas não gostava de não saber mais usar as pernas trocadas. As pernas que apenas ele saberia usar que lhe foram dadas numa manhã qualquer, ressacados das travessuras da noite anterior sem medo algum de não se saber pra onde ir. Por isso aquela anestesia no peito, aquele vazio no olhar e aquele cuidado extremo com o que vestir. Era por causa daquelas pernas que ela não dançaria mais.

Num gesto de desapego com a solidão o procurou novamente. Escreveu-lhe com as palavras mais encantadoras, elogiou a saudade do cheiro que tanto sonhava sentir mais uma vez e sem muito falar, constrangida pelo sorriso de esperança no rosto, propôs mais uma noite de amor.

Daí em diante tudo era ligeiro, as pessoas passavam correndo e até o vento que contornava seu rosto era empurrado de lado para que cada segundo pudesse passar mais depressa. Vestiu o seu mais lindo decote e as pernas trêmulas foram enfeitadas com sua meia de tarrafa preta enquanto derramava descontroladamente seu perfume. E espera ansiosa pelas suas belas costeletas e seu inesquecível sorriso muito bem arredondado.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Ainda me confundo com meu eu defunto
Trago-inalo- sua epiderme espessa com amarrons dilacerados
Engasgo-me com os pelos encravados em minhas lamúrias
E sou corpo amarrado, encaixotado e enterrado....

terça-feira, 9 de março de 2010

Por onde andam meus óculos?


Meu semblante anda meio arrastado, inconformado com a forma que estou tomando.... Hoje, acordei com sulcos por todo o corpo, como caminhos traçados pelo tempo....
Encarei-me de fronte ao espelho, mas havia me esquecido de cobrir meus olhos com minhas lentes de contato....Tudo embaçado, meu corpo, minha alma e meu traço...Pus-me a esfregá-lo para que um gênio pudesse aparecer e realizasse meus anseios, contudo, dei-me conta da mancha avermelhada que surgia.... E logo pude perceber que o que saia de seu ventre eram apenas algumas poucas gotas de lágrimas....

sábado, 6 de março de 2010

NUM pisca-PISCA

BELISCANDO as pontinhas dos dedos olhos ATREVIDOS luz-PEQUENA-lucidez

terça-feira, 2 de março de 2010

A hora do Grito

É quando minha carne trai
meu corpo se refaz,
É quando não entendo o mundo
E não meço o tempo, mudo,
É quando me pergunto o porquê
deparo-me com o não sei o quê,
É quando me lembro dos teus olhos
conjugo-me desatinada,
É quando sinto tudo isso
na porta do paraíso
na beira do precipício,
É quando meu peito se anestesia
acalmo-me e não abro,
É quando me suporto, me decoro,
É quando me invejo e não nego,
É quando me transporto,
É quando sou protagonista
implorando um segundo plano,
É quando sou figurante
declamando papel principal,
É quando existo, persisto, promiscuo,
É quando teus olhos mudam de cor
É quando escrevo torto
e me questiono pouco,
É quando deito de lado
joelho dobrado
cabelo amassado
e penso ainda mais,
É quando sinto saudades
um passo á paisagem,
É quando pinto com tinta
o que é pra ser castigado,
É quando mordo errado
o que é pra ser pintado,
É quando durmo um pouco
do amanhecer mais belo,
É quando aquarela de cores
o anoitecer de horrores,
É quando me cai o sono
no dia segundo e me enche os sonhos,
É quando estou e não dito
um quarto lacrado
pertenço enlatado
e o branco ao lado
repentinamente
prateado,
É quando combino comigo
A hora do grito
Hora do grito
Do grito
Grito
Grito
Grito
.....