quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

MAR


Ainda embriagada da nostalgia marinha me acaricio vagarosamente ouvindo o ronrar que de resquícios ficou em meu peito insone após ter passado uns poucos dias trafegando entre sonhos e realidade. O mar estava lá entrelaçado com uma legião de admiradores que diariamente vão ao seu encontro louvar o que nem mesmo entendem ao certo. Tenho contudo, uma versão bem interessante dessa maestria marinha. Minha posição de menina do mar me é suspeita ao falar dele, pois sou pedaço fluido de suas águas. Seu mistério penso eu, ser o espelho dos nossos. Durante os dias em que estive ao seu lado incansavelmente eu estava á contemplá-lo e ele em troca cutucava-me delicado para que eu pudesse espiar suas travessuras e assim compreender um pouco mais - repito, um pouco apenas - a vida. Encantava-me com simples respostas para que eu pudesse despejar em suas águas gotas salgada de minha carne amolecendo minha rigidez humana. Quando me percebia estava espalhada em seus braços, pedaços meus misturavam-se ora com sua superfície sendo jogados cruelmente em seu porto e ora conduzidos á suas profundezas mostrando-me um mundo mágico encoberto por toda aquelas águas. Transcrevo aqui uma experiência mágica que tive num rabisco de minha estória, e o faço por transbordar palavras de meu corpo que agora me instiga.
Perguntei-me enquanto era acalantada pelo mar o porquê de tamanho mistério, se ali não teriam apenas águas que iam de uma ponta a outra da terra para o fim apenas de alimentar a vida. Mas bem mais que isso percebi quando mergulhei em seu silencio lembrando-me de uma vez em que estive dentro de seu mundo (mundo esse que voltarei) num lugar alcançável apenas a desbravadores que procuram entender um pouco mais de magia. E lá em suas profundezas é onde ele esconde toda a sua incansável beleza. Em sua superfície como uma vida qualquer ele entrega á calmaria e á turbulência, esse vai e vem de suas águas que desprende de seu corpo o que lhe machuca e traz para si o que lhe faz sorrir. Às vezes ele, como um simples mortal, leva para si um pouco do lixo da vida, mas em troca conduz a sua margem uma força sobre humana acordando o mundo para sua importância. Percebi essa similaridade entre nossas vidas enquanto velejava em suas ondas e encantei-me ainda mais pela força e os mistérios daquele gigante de águas inquietas. Como uma vida comum ele entrega sua superfície para o vai e vem indiferente ao mundo hoje, e lá dentro no seu lugar mais intimo guarda um mundo que além de belo é composto pela ausência de tempo tornando seu espaço ilimitado onde suas cores compõem uma escala cromática surreal aos pobres olhos conformados dos humanos. E onde nasce, floresce e abastece toda sua força e beleza.

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