domingo, 7 de fevereiro de 2010

ALTAR

Enquanto me contemplavas no altar
Aquele mesmo que construístes
Sem ao menos perceber que não me cabia tal resignação,
Preocupavaste apenas em farejar minhas rasuras

E Lá de cima
Eu mesma vinha despindo aos teus pés
Pedaços estragados da minha estória
Quando enfim conhecestes meu cheiro podre
Sem uma gota sequer de compaixão
Pude então conhecer tuas costas.
Opostas!

Saistes num ritmo lento
Vez em quando espiavas
Conferindo mesmo aquela minha forma estranha
Esquecia-se, contudo,
Que me pusestes lá com as próprias mãos

Olho-me La de cima
Incomodada com os pedaços que não levastes
Logo aqueles
Que mais me pesam a face
E que foi por eles,
Não lembras?
Que construístes o altar

Agora me confundo sobre tal pretensão
Uma persistência tua em me santificar
Fraco por tanto esforço em vão
Desatento e desorientado
Deixastes que escapasse
Meu único pedaço fresco.
Agora te pergunto:
Valeu tal pena?

E sobre o altar
Que construístes para mim
Garanto-te desocupar em breve
Para que possas conduzir outro corpo qualquer.
E assim vais repondo em tua laje
Imitações
Do que só encontrarás em mim

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